A pergunta que guia este artigo – por que estudar a mídia negra é uma pergunta que o pesquisador Adriano Batista Rodrigues e nós da FUNAFRO fazemos. Nos tempos atuais, ela se torna cada vez mais urgente diante da realidade digital em que vivemos. Com mais da metade da população brasileira se declarando preta ou parda, segundo o Censo de 2022, é inadmissível que a representação dessa maioria ainda seja invisibilizada ou estereotipada nos meios de comunicação tradicionais.
Nesse contexto, a mídia negra em ambiente digital se destaca como ferramenta poderosa de resistência, protagonismo e reconstrução de identidades. Estudar essa mídia não é apenas um interesse acadêmico: é uma necessidade social, política e cultural.
O que é mídia negra?
Antes de tudo, é essencial entender o conceito. Segundo a pesquisadora Alice Oliveira de Andrade, mídias negras são iniciativas comunicacionais insurgentes, criadas por pessoas negras, com o objetivo de reescrever as narrativas sobre o povo negro. Elas enfrentam o racismo estrutural, a exclusão e a hegemonia da mídia corporativa, dando visibilidade a vozes historicamente silenciadas.
Por que o ambiente digital?
Estudar a mídia negra em ambiente digital é estratégico porque a internet ampliou as possibilidades de comunicação, mas também reproduziu as desigualdades do mundo offline. Racismo algorítmico, exclusão digital e limitação de alcance ainda são desafios enfrentados por essas mídias.
Por outro lado, é no digital que iniciativas como a Alma Preta Jornalismo se consolidaram. Criada em 2015, a agência é um exemplo de como a mídia negra pode usar a tecnologia para disputar narrativas, combater o racismo e promover uma perspectiva afrocentrada.
Identidade, representação e resistência
A mídia negra não apenas informa, mas forma. Ela reconstrói identidades através de conteúdos que reafirmam a cultura, a história e os valores da comunidade negra. Como defendia a historiadora Beatriz Nascimento, é preciso que a história do povo negro seja contada por seus próprios olhos, com suas próprias palavras.
Essa abordagem também encontra eco nas teorias de Stuart Hall, que considera a mídia um espaço de disputa simbólica. Nesse campo, a mídia negra atua como um verdadeiro “quilombo digital”, criando significados e confrontando estereótipos raciais.
A estrutura da Alma Preta como exemplo
Ao estudar a mídia negra, é fundamental analisar sua organização editorial. A Alma Preta conta com editorias como Cotidiano, Cultura, O Quilombo, Investigação, Alma Pretinha e África e Diáspora. Essa divisão demonstra o compromisso da agência em abordar diferentes aspectos da experiência negra, desde temas infantis até questões de saúde e política internacional.
Essa diversidade de abordagens não apenas fortalece o senso de comunidade, como também amplia a visibilidade e a pluralidade das vozes negras.
Mídia negra como ferramenta de transformação
Estudar a mídia negra é também reconhecer seu papel como agente de mudança social. Ela denuncia injustiças, revela desigualdades e promove a construção de um jornalismo antirracista. Além disso, atua diretamente na formação de uma consciência crítica e coletiva dentro da comunidade negra.
Para Roger Silverstone, a mídia molda nossa percepção do mundo. Logo, estudar a mídia negra é entender como ela altera essa percepção, oferecendo novas lentes para interpretar a realidade e reconhecer a diversidade que nos cerca.
Representatividade importa
A representação negra na mídia é uma questão de sobrevivência simbólica. Quando a população negra se vê em posições de poder, em narrativas positivas e em conteúdos que valorizam sua cultura, isso impacta diretamente na autoestima coletiva, no pertencimento e na construção de futuros mais justos.
A mídia negra permite esse reconhecimento, esse lugar de fala e escuta. É um espelho e também um megafone para as lutas e conquistas da negritude.
Portanto, por que estudar a mídia negra? Porque é uma maneira de romper o silenciamento histórico, de valorizar saberes afrocentrados, de promover uma comunicação mais justa e inclusiva. No ambiente digital, essas mídias ganham ainda mais força ao conectar comunidades, formar opinião e redefinir o que é ser negro no Brasil e no mundo.
Estudar a mídia negra é urgente. E é também uma forma de se aquilombar no presente para transformar o futuro.
Se você quer aprofundar esse debate, conhecer mais iniciativas ou tem uma experiência para compartilhar, deixe seu comentário abaixo. Vamos fortalecer essa rede juntos!