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Chavoso da USP: da periferia até a CPI dos Pancadões

Chavoso da USP em sua formatura no curso de ciências sociais na USP, a foto foi feita pela fotógrafa @vickkalmeida

Reprodução redes sociais – chavosodausp.02; foto por vickkalmeida

Trajetória do Chavoso da USP, professor que veio da periferia e é voz da luta antirracista na CPI dos pancadões

“Um motivo para eu ter tatuagem no rosto, foi que durante as minhas palestras na Fundação CASA, os meninos para quem eu lecionei em sua maioria tinham tatuagem no rosto, pescoço, etc. Eles tinham medo de que isso os atrapalhasse a ingressar em uma faculdade de ensino superior como a USP.” Foram as palavras de Thiago Torres, no podcast Kritikê. Conhecido como Chavoso da USP, o influenciador digital representa a periferia paulistana.

Filho de migrantes nordestinos cresceu nas favelas da Brasilândia, na Zona Norte de São Paulo. Ele se mudou para Guarulhos junto com a família durante a adolescência. Thiago, ao observar a vida nas comunidades, desenvolveu determinação para ouvir os incentivos do pai em se concentrar nos estudos. Em 2018, aos 17 anos, foi aprovado em Ciências Sociais pela USP, motivo de orgulho para o jovem: “Uma pessoa da periferia se formar no ensino médio já é uma vitória. Fazer faculdade é mil vezes maior. Quando entrei na USP, foi uma vitória para todos ao redor”, disse em entrevista para o Observatório do Terceiro Setor.

A fama na USP

A fama encontrou Thiago no ano de 2019. Ele realizou um post em seu Facebook apontando as desigualdades e a diferença entre a vida na periferia para o restante da cidade de São Paulo. Foi assim que o apelido de “Chavoso da USP” surgiu. Por conta do estilo do jovem que segue a moda da periferia; ele usa bonés, possui tatuagens por todo o corpo incluindo rosto e pescoço, usa correntes, brincos e o famoso óculos “juliet”. Estética muito presentes nos bailes funks de SP.

O influenciador hoje conta com mais de 1M de seguidores nas redes sociais, ele participa de podcasts, palestras, dá aulas e produz conteúdos principalmente de posicionamentos políticos e sobre a vida e cultura nas periferias, com foco na educação e desigualdade social principalmente no meio estudantil.

Em seus vídeos, mostra que o sonho de ingressar em uma unidade de ensino superior como a USP sendo de uma periferia negra, é difícil, mas não impossível. Ele critica falhas dos sistemas institucionais e estatais. O público, em sua maioria sendo adolescentes, são incentivados a desenvolverem senso crítico e se esforçarem em seus estudos. O Chavoso da USP, fala a língua da juventude.

Um homem negro, homossexual, da periferia, e o mais importante, intelectualizado. Para ele, isso é revolucionário e não tem nada a ver com a ideologia de meritocracia: “Você pode ter estudado o dia inteiro para fazer o ENEM, mas no dia da prova, teve tiroteio na sua casa. Há muitas coisas que são externas a nós e que o Estado precisa resolver, mas colocam na nossa cabeça a ideia individualista de que se você se esforçar você consegue”, foi o que ele disse durante uma coletiva realizada pelos alunos na Câmara de Santos.

O conflito na CPI dos Pancadões

Acusado de envolvimento no crime organizado, Thiago – O Chavoso da USP, foi convocado a depor na Câmara a respeito da CPI dos Pancadões, que ele alegou ser apenas “mais uma face do racismo estrutural”.

O vereador Rubinho Nunes (União Brasil) o pressionou. Ele argumentou que o crime organizado vinha das periferias. Assim, a discussão escalou e Thiago defendeu que: “o crime existe em todo o lugar, inclusive dentro dessa Casa”. Após isso o vereador ameaçou dar voz de prisão ao influenciador, expressando que ele havia ultrapassado os limites da crítica. Acusando que a afirmação do Chavoso da USP se encaixava como testemunho falso.

Apesar de alegar ter sofrido muito preconceito durante os seus anos na USP. O Chavoso da USP recebeu apoio de muitas pessoas negras e participantes de movimentos antirracistas. O próprio Jornal da USP e outros veículos de imprensa passaram a elogiar Thiago por sua iniciativa em desafiar o sistema. Em uma história contínua de superação, o Chavoso da USP é mais que a voz da periferia; ele é a inspiração.

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